50 anos do Golpe de 64 e suas repercussões atuais

No dia primeiro de abril de 2014, por mais irônico que isso possa parecer, o Brasil “celebrou” os 50 anos do golpe que, após derrubar o presidente João Goulart, instalou uma ditadura militar no país. Ditadura essa que permaneceria por mais de 21 anos, mancharia as páginas da história com sangue e que afetaria para sempre o Brasil em termos políticos, econômicos e sociais. O baque de 64 foi tão impactante que, mesmo após a “redemocratização” promovida em 85, o Brasil ainda luta para reestabelecer uma soberania popular plena.

Não vou entrar aqui em detalhes sobre como tudo isso sucedeu-se. Muitos outros veículos de imprensa, como a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo estão disponibilizando em seus sites, especiais sobre o Golpe de 64 que explicam, muito melhor do que eu jamais poderia, como tudo aconteceu.

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Gostaria de falar aqui sobre algumas notícias que chamaram minha atenção; coisas que estão acontecendo no país, nesse momento de reflexão sobre essa data tão importante em nossa história.

Um dos eventos que mais gerou polêmica nos últimos dias foi a chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” que reuniu, no dia 22 de março, mais de mil pessoas que faziam um apelo pela volta do regime. A Marcha, que aconteceu  na  maioria das capitais do país, simulava uma outra manifestação homônima que ocorreu há 50 anos, em março de 64, também clamando pela intervenção militar. É interessante perceber que, apesar da maioria da população repudiar os anos de chumbo da ditadura, ainda existem vários brasileiro que glorificam e apoiam esse regime.

Outra manifestação que causou alvoroço nos últimos dias foi aquela promovida pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), no dia primeiro de abril, em repúdio aos 50 anos do golpe militar. Exclamando o lema “ditadura nunca mais”, ao menos 1.000 manifestantes ocuparam a Avenida Paulista. Além de protestarem contra os 50 anos do golpe, os manifestantes também pediam a desmilitarização da PM, o fim do uso de armas letais contra civis em protestos, o fim da prisão para averiguação dos mesmos e o uso obrigatório de identificação das forças policiais em manifestações.

Além disso, diversas instituições país afora estão organizando alguma forma de “celebração” com intuito de promover reflexão sobre os 50 anos do golpe. Há, por exemplo, uma exposição que reúne peças e documentos da estilista Zuzu Angel, perseguida pelo regime, e cujo filho, Stuart Angel,  foi assassinado nos porões do Centro de Investigações da Aeronáutica no Rio de Janeiro, em 1971.

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Foi interessante ver como os 50 anos do regime repercutiram em algumas universidades do país. Na Faculdade de Direito da USP, por exemplo, houve o caso do professor Eduardo Botelho Gualazzi, que resolveu homenagear o golpe, que ele chama literalmente de revolução, lendo um discurso que ele próprio escreveu para uma turma de alunos. Em resposta, um grupo de alunos encapuzados invadiu a sala cantando a música “Opinião”, um hino de protesto contra o regime. Os alunos filmaram ea invasão e colocaram-na nas redes sociais. O resultado foi um vídeo bastante impactante:

 

 

Durante a aula de História do Brasil, minha classe teve uma discussão interessante sobre esse assunto polêmico (aqui na Graded, as aulas de BrSS da professora Adriana Monti estão discutindo essas repercussões atuais dos 50 anos do regime, já que este é um momento tão importante na história do país). Muitos na sala de aula concordavam com o protesto dos alunos, apontando que um professor jamais poderia fazer apologia política em sala de aula com tamanho viés ideológico. Outros condenavam a atitude, argumentando que o professor tinha todo o direito de expressar sua opinião, independente do âmbito em que isso fosse feito (comentem e posicionem-se aí embaixo! Com quem vocês concordam?).

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Podemos ver que o efeito desse período sombrio reverbera até hoje em vários setores da sociedade brasileira, revelando a tamanha importância dessa data. Independente do lugar que você ocupe no espectro político e social, os efeitos desse período de vinte anos de nossa história, iniciado em 1964, no dia da mentira, ainda afetam a você, leitor, e seu país. Em meio a todos esses protestos e eventos, peço-lhe somente uma coisa: use o distanciamento histórico que esses 50 anos nos proporcionam para refletir e se informar sobre nosso passado. Pois só assim, conhecendo a história, não estamos condenados a repeti-la.