O (re)descobrimento da pátria

No dia 22 de abril de 1500, como estudamos na aula de história do Ensino Fundamental, o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral. Porém, nessa data, o território não poderia ser descrito como verdadeiramente brasileiro. Nosso país foi batizado primeiramente como Ilha de Santa Cruz e foi somente no dia 7 de setembro de 1822 que o povo brasileiro surgiu oficialmente, quando D. Pedro gritou às margens do Ipiranga “Independência ou morte!” Depois de 192 anos, ainda debatemos sobre o verdadeiro significado do que é ser brasileiro.

Historicamente, nossa independência foi conquistada de forma um tanto fácil, para não dizer covarde. Diferentemente de outros países americanos, que lutaram bravamente para chamar sua própria terra de pátria, o Brasil usou uma rota alternativa, e muito mais fácil. Cedeu a um tratado, mediado pela Grã-Bretanha, que fez com que pagássemos 2 milhões de libras esterlinas a Portugal, referente à nossa independência. Um país que não precisou lutar por sua própria independência, com certeza tem um patriotismo reduzido à quase nada. Ao contrário do que ocorreu aqui, os Estados Unidos  lutaram bravamente para se libertar do domínio inglês, e até hoje comemoram fervorosamente o feriado de 4 de julho (dia da independência americana) .

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Já que a ex-colônia portuguesa não tinha uma identidade firmada, restou ao futebol encarnar esse sentimento patriota, pouco presente no povo brasileiro. Em 1950, o Brasil sediou seu primeiro mundial e, desde então, um fantasma apavora nossa seleção, depois da derrota de 2 a 1 para o Uruguai em pleno Maracanã. Em 2014, a segundo copa do mundo no Brasil, a história se repetiu, mas dessa vez de uma maneira muito mais inusitada e trágica. Como todos devem saber, perdemos pelo placar arrasador de 7 a 1 contra a atual campeã, Alemanha. Os que presenciaram o massacre choraram um pouco, mas fora dos portões do Mineirão, a imagem era diferente: “Ambulantes seguiam vendendo cerveja. Embaixo de uma marquise, um casal se beijava sôfrega e desajeitadamente, como costumam se beijar os casais, na primeira vez. Apesar da tristeza e da perplexidade, a vida seguia seu rumo,” escreveu Antonio Prata na Folha de São Paulo. Mesmo sendo a maior derrota da história do futebol brasileiro, a Copa do mundo foi uma das maiores conquistas do nosso país. Contrariamente ao dito popular, “imagina na copa,” que fantasiava todas as possíveis catástrofes que poderiam surgir durante o mundial, o Brasil encantou a todos. Os alemães  se apaixonaram pelo país, cantaram o hino do Bahia e vestiram a camisa do Flamengo; Os americanos nunca torceram tanto para seu time de futebol e Balotelli pediu sua mulher em casamento. Ao fim do campeonato, a mídia ao redor do mundo carimbou a Copa de 2014 como a melhor de todos os tempos.

Certamente o brasileiro supervaloriza os resultados do futebol, e às vezes parece sentir-se verdadeiramente brasileiro só a cada quatro anos. Entretanto, o mesmo futebol que pode iludir o povo, fez com que ele se orgulhasse e mostrasse ao mundo que o país tem potencial para realizar coisas incríveis. Pode até ser que sejamos patriotas apenas a cada quatro anos, mas finalmente o Brasil conseguiu se desconectar da imagem de ‘país do futebol’ e provar que é capaz de ir muito além do esporte.