Diário de uma crise de meia-idade

Dezessete anos e já sinto que virei a página da meia centena. Ou ao menos, é isso que presumo. Colapso físico e mental, desespero, choro, angústia, confusão, a vontade de parar e refazer tudo. Os sintomas batem. Mas, quando conto isso – com certo exagero – para meus amigos, sou mais uma vez relembrada de que o termo do qual venho me apropriando, a famosa “crise da meia idade”, tem nome próprio para nós (entenda-se nós como adolescentes, atualmente cursando o último ano do ensino médio americano, ou Senior Year). Trata-se de SENIORITIS. Faço questão de ressaltar a palavra, pois tamanha é a gravidade do assunto. Tenho de confessar que, até alguns dias atrás, não acreditava nessa bobagem. “Ah, é só uma (baita) desculpa para vocês não fazerem nada, dormirem até mais tarde e cabularem aula”, eu falava para todo mundo que me chamava de proativa.

Agora, a menos de um mês para a entrega dos últimos “applications” e trabalhos do IB, eu finalmente compreendo o termo. Sonho dia e noite com minha cama, um chá gelado, piscina, férias, faculdade… Quando estou prestes a largar a caneta e finalmente desistir de estudar mais um termo biológico, sou despertada por meu calendário, anunciando ainda mais uma tarefa a ser cumprida. E essa, como todas as outras, acaba sendo a mais urgente. Não preciso dizer que o ciclo continua intermitentemente; e assim, pouco a pouco, minha vida social se deteriora, meu quarto passa a ser um aglomerado de livros e cadernos, lápis desgastados à bitucas, e eu só de olho no calendário. Tenho até O DIA marcado, com um grande e opulente X vermelho.

Neste exato momento, sentada aqui escrevendo este texto, minha cabeça já começa a ferver. Especulo impiedosamente que não vou conseguir fazer metade do que tinha planejado, que vou tirar zero, que minha vida acabou, e daqui em diante é só um grande peso, nos ombros e na consciência. A pressão parece não acabar nunca. Se eu pudesse avisar a Rafa da quinta série que a gastrite só pioraria com os anos, juro que eu o faria.

Pós eleições, eu daria o mesmo conselho à Dilma. Como diz um professor, “Preste atenção e tome cuidado com o que você pedir, pois o pedido pode muito bem se tornar realidade.” Talvez essa anedota nos poupasse de inúmeras noites em claro e nos ajudasse a prevenir tanto uma série de escândalos ecônomicos, como também uma onda de revoltas sociais – até porque a última delas, na avenida Paulista no dia 1 de novembro, pedia pela volta do Regime Militar; e aí é miopia demais pro meu gosto.

Brasil, vem cá. Vamos ter um papo cabeça e reavaliar nossa situação. De acordo com Klaus Schwab, até ano retrasado, você tinha uma taxa de crescimento de 10% e um PIB per capita de US$ 1 mil. Paralelamente, eu também aumentei minha produtividade nos últimos meses. Ambos tivemos nossos dias de glória (à la Charlie Brown). Entretanto, chegamos à tão temida encruzilhada, um período de “é agora ou nunca”, os dias de luta. É difícil mesmo crescer, quando sua taxa já está num patamar tão baixo; diria até que é tão díficil quanto aumentar uma nota de ACT. Requer estudo e esforço contínuo. Contudo, independente do que precisamos fazer para chegar ao fim desse período de incertezas, temos todos os ingredientes aí, é só saber administrá-los na prática.

Faltando pouco para o fim do turno da atual presidência e da minha carreira de ensino médio, ambos duraram quatro anos, vejo que ainda há muito o que fazer e a vontade é mínima. Não é só pelo curto prazo, nem porque a senhora Presidenta foi reeleita, apesar da crise, que devemos desistir e nos entregar à derrota ou, para os que podem, pensar até em mudar para o exterior.

Francamente, cheguei a acreditar que o Brasil e eu éramos casos perdidos. De vez em quando me arrepio ao cogitar que esse realmente seja um caminho sem retorno, e que nem eu nem meu país temos garra para superar. No entanto, se assumir isso, serei só mais uma pessoa abandonando o navio prestes a naufragar. Se todos agissem e pensassem assim, talvez nem fôssemos a sétima economia do mundo, e Brasília já tivesse sido transferida para Miami. Vai saber… Então, fico e dedico meus esforços a melhorar o país, pois é preciso superar a tal “crise da meia idade” e fazer a p**** toda funcionar novamente. Sinto-me na obrigação de enxugar as lágrimas frustadas, deixar de lado as desculpas, limpar todos os sintomas que me ofuscam o pensamento e acabar com o marasmo antes que o marasmo acabe comigo.