Tem machismo na Graded sim

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Mídia NINJA via Flickr // Creativecommons

Meu amigo secreto define as meninas pelo tamanho do shorts.

Meu amigo secreto parou de conversar comigo quando eu não quis beijá-lo.

Meu amigo secreto deixa seus alunos fazerem piadas machistas em sala de aula.

Meu amigo secreto mandou eu me depilar.

Meu amigo secreto me chama de feminazi.

Meu amigo secreto acha certo deixar a meninas bêbadas e mais fáceis.

Meu amigo secreto parou de ser meu amigo depois que eu me recusei a mandar nudes.

Meu amigo secreto me agarrou a força.

O dia 8 de Março marcou o Dia Internacional da Mulher. No mundo todo, milhares de pessoas foram às ruas apoiar a luta feminina. Todos se manifestaram por meio das redes sociais. Viu-se muita demonstração de progresso contra o machismo. Mas, isso foi só um dia.

Parece que o feminismo durou um dia, ou foi direcionado a uma escala global grande demais para ser relevante. Não houve ênfase o bastante dos pequenos atos de machismo no nosso dia a dia. Nunca há ênfase o bastante. Não é uma coisa muito falada. Os pequenos sofrimentos são incrivelmente minimizados e normalizados. É um tabu gigante. É bastante comum homens se dizerem pró-feminismo mas se esquecerem de suas atitudes rotineiras e machistas.

Mesmo que o machismo seja um tema extremamente importante, esse artigo não se direciona a este em geral. Trago, aqui, a reflexão sobre a importância da discussão e da exploração de tabus e de polêmicas na sala de aula. Acima foram citados alguns relatos que podem parecer chocantes a alguns, porém às meninas, são muito mais que comuns. Estes, e vários que não foram incluídos neste texto, vieram de alunas da Graded, anonimamente mandados. Todos, relacionados a meninos da própria escola.

Em um ambiente escolar, teoricamente seguro, é impossível que haja uma menina que não tenha se deparado com, ao menos, uma situação parecida. Porém, a maioria sofre em segredo. Muitas têm vergonha. Muitas têm medo. Muitas nem percebem que algo tão comum é relacionado a uma opressão masculina.

Os relatos foram usados na aula de Português do décimo ano que foi uma das únicas que dedicou um período inteiro à discussão do Dia Internacional da Mulher. Naquele momento, meninas puderam  empoderar-se e iluminar um pouco esse assunto tão importante. A resposta foi polêmica. Polêmica pois sempre haverá opiniões divergentes. Polêmica porque incomoda. Incomoda para os meninos, admitir que isso realmente acontece. É muito mais difícil lidar com temas que têm uma relação tão direta com o dia a dia dos estudantes. Mesmo assim, é o que torna tão importante.

Relatos com aqueles mostram como ainda há um caminho grande a ser trilhado na escola e na sociedade como um todo. Como mudamos isso? Trata-se de trazermos à discussão e à desconstrução. Da primeira vez irá ser complicado. Da primeira vez haverá insegurança, a argumentação será difícil, os alunos não estarão confortáveis. Porém, com o passar do tempo, o planejamento se aprimorará, haverá feedback e os participantes perceberão que há um espaço para diálogo e visibilidade.

O Dia da Mulher é somente uma das situações a que essas discussões são aplicáveis. A escola é um ambiente fundamental na formação do cidadão. É um momento em qual o jovem está aberto à mudança e à transformação do pensamento. É uma das grandes influências na vida de um aluno. Por isso, é o ambiente ideal para que a discussão seja introduzida. É importante que a escola esteja aberta a problematizar a maneira de pensamento de cada um. A questionar as ações em relação aos demais.

O machismo continuará a existir se não estivermos abertos a tratar o assunto diretamente com a juventude. Precisa deixar de ser algo rotineiro. Precisa ser problematizado e conversado. Precisa haver um espaço em que as opiniões de cada um sejam escutadas e propriamente desconstruídas. As salas de aula precisam virar um local em que assuntos de tanta importância ao desenvolvimento da população sejam explorados. 

Este ano, um professor escolheu trazer esse protagonismo feminino à sua classe. Ao longo do tempo, que isso se torne algo mais comum. Devemos tentar, ao máximo, que a educação faça parte do desenvolvimento de cidadãos que irão fazer o bem para a sociedade. Trabalhar para que o sistema escolar dialogue com o crescimento da empatia e da conscientização. Meu amigo secreto deve ser exposto para que ele possa deixar de existir.