O Imperialismo do Século XXI

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Credit: Isabel Park

Durante a semana das viagens de CWW, tive a oportunidade de ir a Belém, a capital do estado do Pará, no norte do país. A região Norte é conhecida por ser ocupada pela Floresta Amazônica e é uma das regiões mais pobres ou, como dizem muitos, “subdesenvolvidas” do país. Quando entrei no avião, identidade na mão e com um sorriso no rosto, achei que lá iria testemunhar os problemas socioeconômicos sofridos pela população paraense e voltar a São Paulo cheia de ideias e de motivação para ajudar a resolvê-los; talvez, até ter alguma iniciativa para começar um projeto. Mas, quando voltei pra casa, a última coisa que estava na minha cabeça era a noção de que os moradores dessa região precisavam de ajuda.

 

Nós, paulistas, crescemos rodeados de arranha-céus, rodovias, marginais, shopping-centers, etc. Temos acesso ao saneamento básico, à internet, à eletricidade, ao ar-condicionado, a roupas importadas, a máquinas e a eletrônicos que prometem facilitar nossas vidas. Quando pensamos em regiões ou países subdesenvolvidos, onde metade da população mora em casas feitas de madeira, sem ar-condicionado, pensamos: “Que horror! Coitadas das pessoas que vivem num lugar assim. Deveríamos doar dinheiro para ajudá-las a se desenvolver.” E aí começam as campanhas, os projetos…todas as iniciativas para melhorar a vida do coitadinho que não tem acesso à pizza aos domingos.

 

Mas, aí que vem a questão: O que é o desenvolvimento? É garantir que todas as comunidades do mundo possuam as mesmas características que cidades como São Paulo e Nova Iorque? Garantir que, ao invés de mercados, tenham shopping-centers? Que ao invés de filhote e pirarucu, comam salmão e kani? Isso seria desenvolvimento? Para mim, parece uma visão imperialista em que nós, os “desenvolvidos”, praticamos o mesmo papel que os ingleses com os indianos e os americanos com os filipinos. Acreditamos que o nosso modelo de vida é o superior e o certo e, a partir disso, nos convencemos do dever de implementá-lo em regiões “subdesenvolvidas” para que elas possam prosperar. No entanto, quem perguntou aos filipinos o que eles achavam da vida dos americanos? Quem disse que os indianos eram a favor de serem anexados ao império inglês? Quem somos nós para dizer o que uma determinada comunidade precisa para prosperar?

 

O desenvolvimento é, então, uma palavra bastante relativa. Se você perguntar a um chinês o que significa o desenvolvimento, certamente ele terá uma resposta diferente da sua. Por isso, quando buscamos ajudar ao outro, um que consideramos menos privilegiado, é fundamental que a ele perguntemos do que precisa ao invés de tentar determiná-lo nós mesmos.

 

O “subdesenvolvimento” não é sinônimo de tristeza ou de má qualidade de vida. Uma sociedade indígena, por exemplo, é considerada subdesenvolvida. No entanto, seus habitantes são felizes e dedicam suas vidas para a disseminação e o fortalecimento de sua cultura local, uma que não inclui idas para o Marrocos e sessões de filmes no Netflix, mas danças folclóricas e outras tradições. Não cabe a nós, nem a ninguém, obrigá-los a viverem da nossa maneira.

Está na hora de deixarmos para trás esta visão retrógrada. Por mais que existam coisas fundamentais para a prosperidade de uma população como saneamento básico e educação, há outras, como academias, que não. Quando queremos ajudar comunidades com menos recursos econômicos, é preciso conhecê-las e entendê-las, para que elas nos digam do que precisam.