Vai (Vai) ao Carnaval

Como um espectador, assisti pelo menos cinco – talvez até seis – Carnavais consecutivos aqui no Sambódromo,  adquirindo uma noção mais ou menos “culta” do Carnaval paulista. Pelas cercas de aramado, foco particularmente não só nos destaques óbvios, mas também nas escolas que estão numa oscilação purgatória entre o Grupo de Acesso e o Especial. Vestindo uma capa de chuva, caso chovesse, amo me enfiar no meio da bagunça até seis ou sete da manhã todos esses anos.

Porém, sei que muitos não apreciam o Carnaval de São Paulo. Em vez de prestigiarem os desfiles daqui, preferem assistir aos de tais lugares, como os do Rio de Janeiro. Talvez a viagem até seja para aproveitar o feriado prolongado; apesar de tudo, o Carnaval do Rio é certamente o mais famoso, inclusive internacionalmente,  atraindo um grande público por causa de sua história e riqueza cultural, fora a farra de suas maravilhosas praias. No entanto, isto não significa que há uma escassez de energia (obviamente não hidrelétrica) ou visuais fantásticos aqui em São Paulo. Pode ser que, às vezes, falte um pouco de animação nas arquibancadas durante os desfiles de algumas escolas, mas, em outras, o público espera com antecipação pelas fantasias e os carros alegóricos, até cantando suas sambas de enredo antes da comissão de frente chegar.

Pelas cercas de aramado, foco particularmente não só nos destaques óbvios, mas também nas escolas que estão numa oscilação purgatória entre o Grupo de Acesso e o Especial.

Como sempre, o Carnaval paulista não decepcionou. A Mancha Verde inaugurou a primeira noite com uma homenagem ao centenário do Palmeiras, o time de futebol que inspirou a sua fundação enquanto escola de samba. Ironicamente, justo como o Palmeiras, a Mancha Verde também foi rebaixada. A Tom Maior encontrará a Mancha Verde no ano que vem no grupo de acesso.

Houve vários destaques este ano, incluindo a Gaviões da Fiel, a Rosas de Ouro e a Mocidade Alegre. A Gaviões da Fiel foi uma das minhas favoritas. Apesar de não ser corintiano, fiquei encantado por suas alegorias de cartas de baralho e os vários jogos e truques que as utilizam.  Cada fantasia representava cartas diferentes: um dos carros alegóricos era de ceifador, representando jogos de azar. Contudo, a Gaviões não surpreendeu os jurados,  pois acabaram em nono lugar. Por outro lado, a Rosas de Ouros, vice-campeã do grupo Especial pelos últimos três anos consecutivos, compôs uma apresentação de empoderamento e de superação de obstáculos. O desfile incorporou contos de fadas de nossas infâncias, como o de Peter Pan e a Terra do Nunca, Alice no País das Maravilhas, a Bela e a Fera e o Mágico de Oz, para criar um cenário idíllico para o público. A Mocidade Alegre contou a história de Marília Pera, uma atriz brasileira que alcançou fama internacional pelo seu talento. Surpreendeu a todos com as alegorias diferentes, mas elegantemente semeadas pelo refrão de sua música: “Mulher guerreira, bem brasileira, A Mocidade é Marília Pera.” Tricampeã consecutiva do Carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre tentou continuar seu reinado no topo das escolas de sambas paulistas, mas perdeu por 0.3 pontos e foi usurpada pela Vai-Vai.

Com o maior número de títulos do Carnaval em São Paulo, a Vai-Vai reconquistou  seu trono, assumindo-o pela décima-quinta vez. A Vai-Vai, a penúltima escola a desfilar, no segundo dia de desfiles, cantou uma homenagem à Elis Regina, cantora de música popular brasileira, que morreu aos 36 anos. Antes do desfile começar, alguns ajudantes e fãs zelosos distribuíram bandeiras para todos os espectadores.  Muitos aceitaram o “convite” de participar da festa e, assim, quando a música contagiante começou, a passarela explodiu numa grande festa.