A Velha Política Busca um Novo Mandato

Às vésperas de uma eleição repleta de escândalos e de muita repercussão, brasileiros encaram a difícil decisão de quem eleger para governá-los. Porém, em função da alta polarização apresentada na eleição presidencial, cargos de extrema importância são deixados ao lado.

Nos últimos anos, o Poder Legislativo nacional provou a sua importância, definindo questões de alta relevância para o país e conquistando um espaço no cenário político de extrema influência. No Brasil, o Congresso é formado por duas casas: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados – ambas com diferentes funções, porém semelhantes em sua essência. Os 81 senadores têm como tarefa principal representar os interesses do seus estados na federação (nível macro); os 513 deputados federais estão presentes para defender interesses de seu eleitorado no cenário nacional (nível micro). Os congressistas, que terão sido eleitos em Outubro, serão encarregados da complicada tarefa de legislar um país que se encontra totalmente dividido após um ano de alta polarização entre (assim ditos) esquerda e direita. Em tempos de turbulência política, parlamentares brasileiros foram bastante criticados pela população devido ao alto nível de corrupção revelado por investigações, a  um índice significativo de ineficiência em aprovar e executar projetos e a precária condição dos serviços públicos. Apesar dessa tremenda rejeição, em um estudo realizado pela Folha de São Paulo, foi constatado que três em cada quatro parlamentares buscam um novo mandato, tornando-se a maior taxa de candidatos à reeleição no Congresso Federal em nossa história.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha no final de 2017, há cerca de 60% de reprovação aos congressistas atuais. Somente 5% da população classificaria o trabalho dos parlamentares como “ótimo ou bom”. Além disso, dos 513 deputados que compõem a Câmara Federal, 178 respondem a inquéritos na justiça por crimes cometidos. A cada três deputados, um está sendo investigado. Apenas seis partidos dos 27 representados não têm um integrante sob investigação. As principais legendas nacionais, PT e PSDB, apresentam praticamente metade de suas bancadas sob inquérito investigativo. Entretanto, esse alto desgaste da imagem da classe política não fez com que os mesmos deixassem de buscar por mais quatro, ou oito anos no Congresso Nacional.

Apesar da ganância de poder e dos benefícios que advêm dos cargos, vários indivíduos necessitavam dessa reeleição para continuarem protegidos da justiça por contarem com o foro privilegiado. Se não reeleitos, 47 membros do Congresso Nacional poderiam ser abertamente investigados por investigações como a Operação Lava Jato. Cerca de 91% dos deputados que são alvos de inquéritos ou ações penais pela tal operação buscaram a reeleição pelo seus respectivos cargos. Desse modo, o foro privilegiado comprovou ser uma ferramenta utilizada com o propósito de isentar aqueles investigados de punição.

Além das diversas acusações de corrupção, os atuais senadores e deputados – para não terem seus nomes “manchados” – evitam sessões em que tenham de votar em temas que geram repercussão. Por exemplo, o que alguns consideram o principal projeto do governo “MDBista” do Presidente Temer, a reforma da previdência, é um projeto que causaria mudanças imediatas na vida dos brasileiros. Apresentado ao final do ano parlamentar de 2016, mesmo faltando poucos meses para o fim do mandato do ex-Vice Presidente, a reforma ainda não foi posta em pauta para obter uma determinação final em nenhuma das casas.

Em relação às eleições de 2014, encontramos um Brasil repleto de movimentos que diziam promover a renovação e o fim da famosa “malandragem política”. Porém, estamos na reta final de uma eleição com o maior número de candidatos a reeleição. Sendo assim, em uma época que brasileiros dizem buscar renovação, há a grande possibilidade de continuarmos vendo os mesmos rostos até 2022.

 

Fontes: Globo G1, Folha de São Paulo, Instituto Datafolha, Estadão